Adaptação da novela de Benedito Ruy Barbosa exibida em 1979, e inspirada no romance homônimo de Ribeiro Couto – escritor da primeira fase do Modernismo – ‘Cabocla’ é ambientada no município rural de Vila da Mata, em 1918. A trama gira em torno da disputa por terras entre dois coronéis – Boanerges (Tony Ramos) e Justino (Mauro Mendonça) – e do amor entre a cabocla Zuca (Vanessa Giácomo) e o jovem advogado Luís Jerônimo (Daniel de Oliveira).
Descrita por sua própria mãe, Bina (Jussara Freire), como um bicho do mato, Zuca, noiva do destemido peão Tobias (Malvino Salvador), é o retrato da sensualidade inocente. Luís Jerônimo, por sua vez, é o típico doidivanas. Filho de pai rico – Joaquim (Reginaldo Faria), exportador de açúcar no Rio de Janeiro –, Luís jogou fora o seu diploma de advogado e caiu na vida das noites cariocas.
Vivendo de forma inconsequente e dividindo-se entre muitas mulheres, Luís Jerônimo recebe do doutor Edmundo (Othon Bastos) a notícia de que está com tuberculose. Aconselhado pelo médico e forçado por seu pai, ele embarca para a tranquila Vila da Mata, para se tratar. Logo que chega de trem à cidade de Pau d’Alho (última parada antes de Vila da Mata), ele se hospeda no hotel de Zé da Estação (Otávio Augusto) para esperar o primo, o coronel Boanerges, que vai levá-lo para sua fazenda em Vila da Mata. Basta uma noite no hotel para Luís se encantar por Zuca, a filha de Zé, e mudar radicalmente seu comportamento.

Depois que conhece Luís Gerônimo, Zuca perde totalmente o interesse pelos preparativos de seu casamento com Tobias. Desiste de cuidar do enxoval, não quer provar o vestido de noiva e fica angustiada, sem entender o que está acontecendo. Ela tenta fugir do moço da cidade grande, mas não consegue tirá-lo dos seus pensamentos. Seu coração aperta ainda mais quando é enviada para a fazenda a fim de ajudar Emerenciana (Patrícia Pillar), que está grávida. Zuca acaba se apaixonando por Luís, desiste do casamento com Tobias e enfrenta tudo e todos por seu amor.
Tobias e Tomé: os peões
A amizade entre os peões Tobias (Malvino Salvador) e Tomé (Eriberto Leão), que cresceram como irmãos, é outro ponto alto da novela. Os dois são excelentes cavaleiros e rivais nas raias domingueiras. Tomé teve um único amor na vida: Rosa (Vanessa Gerbelli), uma das irmãs de Tobias, também filha de Felício (Sebastião Vasconcelos) e Generosa (Vera Holtz). A jovem fugiu com um mascate, o que transformou Tomé em um homem amargurado. Mas é Tina (Maria Flor), a outra irmã de Tobias, quem realmente o ama. Os dois chegam a se casar na história, mas Tomé morre no final da trama, quando ele e Tobias se envolvem em uma briga com um dos homens que espancaram Felício. No fim da novela, Tobias acaba casado com Mariquinha (Carolina Kasting).

Neco e Belinha
O coronel Boanerges é um político muito estimado pela população local. Ele e a mulher, Emerenciana (Patrícia Pillar), são os padrinhos de Zuca. Os dois têm uma filha, Belinha (Regiane Alves), que está de volta à casa dos pais após estudar na capital. O coronel Justino também é um forte líder político na região. Viúvo, ele vive com seus dois filhos, Neco (Danton Mello) e Mariquinha (Carolina Kasting), que não concordam com o conservadorismo do pai e com a forma como cuida de seus interesses. Mariquinha é professora da escola rural de Vila da Mata, apaixonada secretamente por Tobias. Neco foi estudar Direito no Rio de Janeiro. O rapaz vive o dilema de abandonar seus estudos por preferir a vida no campo. Sua visão política também contraria os interesses do pai, já que Neco defende os direitos dos trabalhadores rurais, os “pés-descalços”.
Rivalidade
A outra trama central da novela trata da rivalidade entre os dois chefes políticos da região de Vila da Mata, os coronéis Boanerges e Justino. A disputa entre os dois pelo poder da cidade é clara, bem como a impossibilidade de entendimento. O tom político é uma marca forte na trama, que também enfatiza a questão agrária. Logo nas primeiras cenas, o vigário (John Herbert), de olho em dinheiro para sua igreja, comanda uma aposta de corrida de cavalos dos dois fazendeiros – representados por seus peões Tobias e Tomé (Eriberto Leão) – que ilustra bem essa oposição.

O estopim da briga entre os coronéis, porém, acontece quando Luís Jerônimo decide defender Felício (Sebastião Vasconcelos), cujo sítio está localizado entre as terras de Boanerges e de Justino. Por usucapião, Felício tem direito às terras que ocupa, mas Justino se vale da ignorância do posseiro e de seus conchavos políticos para tomar o sítio.